Como é feito o tratamento do bruxismo?

O tratamento do bruxismo varia conforme as causas do transtorno. O bruxismo é um termo muito amplo que descreve atividades dos músculos que movimentam a mandíbula, que, se reconhece hoje em dia, podem inclusive ser benéficos.  Por isso, o primeiro passo para acabar com o problema é investigar suas causas, que podem ser várias. Do contrário, pode-se ter desgastes progressivos nos dentes, problemas na articulação têmporo mandibular (ATM),dores de cabeça e/ou enxaquecas intermináveis, dores na musculatura da face e costas, problemas  gengivais que não se resolvem, porque estamos simplesmente tentando tratar um sintoma, sem olhar para a sua origem.

Neste artigo, mostramos os principais aspectos sobre essa condição, considerada bastante comum. Além disso, explicamos quais são as possibilidades terapêuticas. Confira!

O que é o chamado bruxismo?

O bruxismo em 2018 foi redefinido por uma comissão internacional de especialistas (1) não como um distúrbio, mas como uma atividade repetitiva e involuntária dos músculos da mastigação (masseter, pterigóideo lateral, pterigóideo medial e temporal),que se  caracteriza por apertar ou ranger dos dentes. Além disso, algumas vezes, também pode levar a deslizar (projetar para a frente ou reter para trás) a mandíbula, inclusive, sem contato dentário.

Tipos e origens

Existem dois tipos de bruxismo:

• bruxismo do sono — o mais comum;
• bruxismo de vigília.

Em relação às origens, o bruxismo pode ser:

• primário – acontecer por si mesmo, uma atividade espasmódica muscular;
• secundário – principalmente o bruxismo do sono, pode surgir em decorrência de outro problema, como apneia do sono, e, nesses casos, ter um papel fisiológico positivo, provocando microdespertares, tirando o indivíduo da situação patológica de não respirar.  Quando, por exemplo, a apneia do sono é tratada, o bruxismo do sono desaparece.

Causas e prevalência

O bruxismo pode ter como causas:

• hereditárias ou ambientais – crianças que têm Pais que rangem ou batem os dentes podem copiar o hábito, ou ter um biotipo geneticamente favorável para esse comportamento muscular
• relacionado a fatores sistêmicos – respiração bucal, xerostomia (doença auto-imune),deficiências de cálcio e magnésio, vitamina B5 relacionadas à contração muscular; distúrbios do sistema nervoso central, ligados à liberação de dopamina e serotonina.
• secundário à apneia do sono,  refluxo gastroesofágico – diagnosticado pela polissonografia, aproximadamente 50% da população que sofre desses males manifesta o bruxismo de forma secundária; pacientes com epilepsia do sono, parkinson também podem apresentar o sintoma do bruxismo, bem como pacientes com distúrbios do sono REM (síndrome das pernas inquietas, entre outras)
• estilo de vida – alto consumo de álcool, tabaco ou outras drogas; aqui precisamos salientar que inibidores da recaptação de serotonina, os antidepressivos do tipo venlafaxina, fluoxetina, sertralina também podem provocar bruxismo
• fatores psicológicos/ psicossociais – ansiedade, estresse, depressão, irritabilidade; implulsos reprimidos, conflitos, competitividade, conflitos que fazem parte do nosso dia a dia da vida moderna

O transtorno afeta pessoas de todas as idades, de crianças a idosos. “Estima-se que o problema acometa, aproximadamente, 30% das crianças e 20% dos adultos”, afirma a Dra. Elisa Baumgarten, dentista clínica integrativa do Centro Conscientia, em Florianópolis, SC. Como se pode ver acima, o quadro é multifatorial, amplo e precisa ser dissecado para que o tratamento seja eficaz.  “E como se pode intuir, às vezes, precisamos de mais de um profissional para resolver a questão.  Uma equipe multidisciplinar bem entrosada pode ser  fundamental aqui”, afirma a Dra Elisa.

Sintomas

Os principais sintomas do bruxismo são:

• dor muscular ou articular;
• estalos ao abrir a boca;
• dores de ouvido e zumbidos
• dificuldade para mastigar alimentos duros;
• cefaleia matinal (dor de cabeça) frequente, se for bruxismo do sono e no final do dia se for bruxismo de vigília (diurno);
• desgaste dentário (comum, mas nem sempre ocorre);
• sensibilidade dentinária devido a desgastes dentários perto da gengiva (abfrações)
• hipertrofia muscular do terço inferior da face;
• marcas dos dentes na língua e bochechas.

Vale destacar que o bruxismo, algumas vezes, pode acarretar disfunção temporomandibular (DTM). Isso ocorre quando a articulação temporomandibular (ATM) e músculos da face são afetados.

Como é o diagnóstico dessa condição?

A suspeita de bruxismo se baseia no relato pessoal ou do parceiro (quando se trata do bruxismo noturno) acerca dos sintomas. Mas, para determinar o diagnóstico, o dentista precisa:

• aplicar questionários de anamnese detalhados;
• realizar um exame clínico cuidadoso;
• solicitar uma polissonografia ou uma miografia, exames considerado padrão ouro.

Como é o tratamento do bruxismo?

O tratamento do bruxismo varia conforme as suas causas. Por isso mesmo, o diagnóstico preciso, obtido por meio de uma investigação aprofundada, é tão importante. Conheça os principais a seguir.

Tratamento do bruxismo de vigília

O tratamento do bruxismo de vigília (diurno) pode ser feito por meio de terapia cognitivo-comportamental (TCC). Em quadros mais leves, estratégias como auto-observação, automassagem, meditação e uso de aplicativos do tipo “Desencoste os Dentes” podem ser suficientes.

Já em casos agudos, pode ser necessário o uso de uma placa interoclusal, para diminuir os sintomas de dor, combinada à terapia farmacológica. “Isso inclui medicamentos como analgésicos, anti-inflamatórios, miorrelaxantes e ansiolíticos. “Aqui no Conscientia gostamos bastante dos fitoterápicos; usamos também a ozonioterapia e a laserterapia, aplicadas nos pontos gatilho, sempre aliados à auto-observação, auto-massagem com óleos essencias”, explica Dra. Elisa. Profissionais parceiros como Fisioterapeutas, Osteopatas, Psicólogos, às vezes Psiquiatras podem ter uma atuação complementar importante e necessárias.

Tratamento do bruxismo de sono

No caso do bruxismo de sono (noturno),é preciso distinguir o bruxismo secundário à apneia do sono. Esse, dependendo da gravidade dos sintomas, pode ser tratado com aparelhos intraorais (AIO),muito diferentes das placas oclusais. É importante salientar que nesse caso, quando o bruxismo é secundário à apneia do sono, usar uma placa de mordida (principalmente se for instalada na arcada superior) piora, na maioria dos casos, a apneia do sono.

Para isso, o melhor método diagnóstico é a realização da polissonografia (tipo I ou IV). A polissonografia tipo 1, realizada em clínicas do sono, é um exame bem completo, que avalia, entre outros parâmetros,  concomitantemente, as paradas respiratórias que acontecem na apneia e os eventos de bruxismo.  A polissonografia tipo IV pode ser feita no conforto da sua  casa e detecta a presença de dessaturações de oxigênio, diagnosticando a apneia, do que inferimos que o bruxismo é, provavelmente, decorrente. Dentistas que, como nós no Conscientia, tratam a apneia do sono, fornecem o aparelho para que o paciente possa realizar esse exame no conforto da sua casa.  Caso diagnosticada apneia leve ou moderada, está indicado o aparelho intraoral (AIO).  “Na prática, esses aparelhos promovem um avanço da mandíbula, liberando a passagem de ar na orofaringe. Com isso, diminuindo a apneia, o bruxismo também diminui”, detalha a Dra Elisa Baumgarten, do Centro Conscientia. Estudos recentes mostram que aparelhos de avanço mandibular, desde que não sejam volumosos, são o tratamento mais eficaz para o bruxismo de sono.

Já para casos de bruxismo noturno não relacionados à apneia, o tratamento consiste na osteopatia e/ou fisioterapia para promover  liberações musculares, ligamentares, de fáscias e/ou de ossos necessárias, associadas às placas miorrelaxantes Caso se suspeite de lesões articulares, exames como tomografias e ressonâncias da ATM podem ser necessárias. Em casos extremos pode ser necessária a injeção de toxina botulínica para aliviar a tensão.

Placas miorrelaxantes à venda em farmácias são eficazes?

Não. Como explicado, as causas do bruxismo são muito distintas e os tratamentos também. “Usar placas miorrelaxantes macias, comercializadas em tamanho único, pode, inclusive, induzir a um quadro de bruxismo”, alerta a Dra. Elisa.

Qual é o papel do paciente no tratamento do bruxismo?

O bruxismo em adultos pode ser uma condição crônica, que precisa de muita atenção e acompanhamento profissional. Mas, para ser eficiente, o tratamento também envolve a motivação do próprio paciente.

“No Conscientia, incentivamos a promoção dos pilares da saúde de forma concomitante ao tratamento do bruxismo”, explica a especialista. Isso inclui:

• praticar exercícios físicos, para melhorar o estresse por meio da liberação de serotonina e endorfinas, como caminhada, dança, natação, entre outras modalidades que geram bem-estar;
• manter uma alimentação balanceada, para permitir uma boa digestão e um peso corporal adequado, prevenindo a promoção da apneia do sono;
• fazer a higiene do sono, o que exige tanto o afastamento das telas como a realização da última refeição, pelo menos, duas horas antes de se deitar, o que também impacta positivamente na qualidade do sono;
• ter um sono de qualidade, o que implica no respeito ao horário de dormir, mantendo-se em posição adequada (de preferência, de lado),sem luminosidade ou barulho;
• zelar pelo sono suficiente, ou seja, dormir a quantidade de horas necessárias para se sentir revigorado;
• cultivar um propósito de vida, que lhe faça feliz, dê uma perspectiva e reduza o estresse.

Portanto, para ser efetivo, o tratamento do bruxismo exige competência profissional e empenho pessoal. Dessa forma, é possível corrigir o problema progressivamente e evitar complicações comumente associadas.

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