A relação entre doença periodontal (que acomete os tecidos de sustentação dos dentes) e distúrbios cardiológicos é alvo de estudos há décadas. Existe, inclusive, a teoria da infecção focal, que sugere que diversas doenças sistêmicas são consequências de infecções iniciadas na cavidade oral.
Neste artigo, explicamos como se dá a associação entre essas doenças inflamatórias. Para entender, continue a leitura!
O que é periodontite?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),a doença periodontal afetacerca de 3,5 bilhões de pessoas no mundo, sendo a sexta condição crônica mais frequente. Além de provocar odor desagradável (halitose) e sangramentos, ela é uma das principais responsáveis pela perda de dentes em adultos.
Também chamada de periodontite, trata-se de uma infecção crônica, com extensão e gravidade variáveis, iniciada por um grupo específico de bactérias (periodontopatógenos). A doença se caracteriza por interações complexas entre o status inflamatório sistêmico, o sistema imunológico e o acúmulo local de biofilme (composto por bactérias e sujidades) abaixo da gengiva.
A gengivite é uma inflamação gengival reversível, de maior ou menor intensidade, que precede a periodontite. Ela resulta de maus hábitos de vida, como alimentação e higiene. Se não tratada e na presença de inflamação sistêmica, intensifica-se e cria um inchaço gengival à volta do dente, que forma nichos com baixa tensão de oxigênio. É ali que se desenvolvem bactérias patogênicas gram negativas, que progressivamente destroem gengiva e osso. O aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos, que ocorre ali devido à inflamação, permite que as bactérias entrem na corrente sanguínea e afetem vários sistemas à distância, como vasos e coração.
Vale sublinhar que a gravidade da inflamação e da infecção está diretamente relacionada ao perfil sistêmico individual. Esse, por sua vez, associa-se a diversos fatores ligados aos hábitos de vida, tais como estresse, tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, má alimentação, alterações hormonais, da glicemia, entre outros.
Qual é a relação entre doença periodontal e distúrbios cardiológicos?
Os distúrbios cardiológicos englobam desordens relacionadas a disfunções do coração e dos vasos sanguíneos. Eles e as periodontites têm fatores de risco em comum, tais como:
- estresse crônico,
- tabagismo e alcoolismo,
- dieta rica em carboidratos,
- obesidade,
- perfil lipídico desregulado,
- diabetes mellitus descompensado e
- disbiose intestinal.
Para que uma doença em uma área distante do organismo se desenvolva a partir de uma infecção oral, deve haver uma conexão entre ambos os processos. Basicamente, a literatura médica explica a relação entre cardiopatias e doença periodontal moderada a severa por meio dedois mecanismos:
- mecanismo direto, no qual as bactérias relacionadas à doença periodontal invadem as células endoteliais (que revestem as paredes dos vasos sanguíneos),contribuindo diretamente na formação e progressão de placas ateromatosas;
- mecanismo indireto, no qual a doença periodontal eleva, cronicamente, os níveis de mediadores inflamatórios e de respostas imunológicas pró-inflamatórias, propiciando o ambiente ideal para a progressão das doenças cardiovasculares.
Independentemente da forma como ocorre a colaboração entre as enfermidades, o que precisa ficar claro é: uma boa saúde bucal é um requisito essencial para a manutenção da saúde sistêmica.
Como tratar a doença periodontal e prevenir alterações cardiovasculares?
Tanto as doenças cardiovasculares quanto a periodontite são multifatoriais, com desenvolvimento e progressão dependentes da interação de diversos fatores, incluindo a predisposição genética. Por isso, melhorias no estilo de vida e um bom acompanhamento profissional, tanto médico quanto odontológico, são medidas fundamentais. Afinal, elas podem mudar o perfil de risco dos pacientes, bem como ajudar a controlar as doenças já instaladas.
Para prevenir a doença periodontal, deve-se fazer uma higiene bucal adequada, de modo a remover o biofilme dentário.Uma boa técnica de escovação e o uso diário da fita ou fio dental são essenciais. Outras medidas complementares importantíssimas são reduzir o consumo de alimentos açucarados e ultraprocessados e visitar o dentista integrativo regularmente.
Por fim, no caso de quem tem periodontite severa, além de controlar a doença local, os especialistas envolvidos no tratamento devem advertir sobre os potenciais riscos de distúrbios cardiovasculares. Já para pacientes cardiopatas, a orientação é sempre manter uma boa higiene oral, de modo a melhorar marcadores sistêmicos, e realizar, sempre que preciso, os tratamentos odontológicos necessários.
Como mostrado, a doença periodontal pode levar à agregação plaquetária, à aterosclerose e ao desenvolvimento e progressão da doença cardiovascular, predispondo à formação de trombos, isquemias, infarto, entre outros distúrbios graves. Por tudo isso, ela é considerada um fator de risco para as cardiopatias, aumentando em cerca de 20% a chance de desenvolvê-las.
Esperamos que o assunto tenha ficado claro. No entanto, se ainda existirem dúvidas, sinta-se à vontade para entrar em contato.
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