Muito tem se discutido a respeito dos conceitos “integrativa”e “biológica”, referentes a diferentes abordagens da odontologia e também da medicina. Antes de mais nada, vale lembrar que se trata de filosofias de trabalho e de condução do tratamento e não de especialidades médico-odontológicas.
Esses conceitos surgiram na tentativa de nomear formas de atuação dos profissionais da saúde que não se identificam com o modelo biomédico mecanicista. Este tem o foco na supressão de sintomas de doenças instaladas e privilegia a segmentação do cuidado com especializações cada vez mais compartimentadas.
Mas afinal o que realmente são estes “títulos” e, de fato, o que é odontologia integrativa e biológica?
O fundamento integrativo
Com o avanço do modelo médico convencional, mudou-se também o cenário de doenças que mais afetam a população em geral. Atualmente, as doenças crônicas, autoimunes e os transtornos psiquiátricos são muito mais prevalentes do que as doenças infecciosas, por exemplo. Assim, o descontentamento com uma abordagem segmentada, muito farmacológica e que muitas vezes apenas mascara sintomas sem resolver causas, fez com que uma onda contrária se estabelecesse.
O conceito de Medicina Integrativa veio para descrever a abordagem de profissionais que consideram, sem desconsiderar a necessidade do modelo convencional mais imediatista da alívio de sintomas, para os fatores ambientais, psicossociais, nutricionais e comportamentais relacionados à doença. Também entende que segmentar o ser humano é não levar em consideração que a parte afeta o todo e vice-versa.
A ênfase neste caso está na prevenção de doenças, na promoção de saúde e na busca de solucionar as causas que engatilham o adoecer. Com a revisão dos modelos de cuidado, diagnóstico e tratamento, surgiram também novas nomenclaturas para descrever as abordagens que não se encaixam mais no modelo estabelecido, podemos citar a medicina funcional, longevidade saudável, medicina holística, dentre outras.
Mas, afinal, o que é odontologia integrativa?
A odontologia não ficaria de fora dessa reformulação de conceitos, que veio principalmente para devolver a atenção ao paciente de forma integral e individualizada, utilizando as evidências científicas e a tecnologia para avaliar e tratar a boca do paciente, percebendo todas as inter relações dessa parte com o todo e, esse conjunto, como um ser único e altamente complexo. Tem o objetivo de promover a saúde geral pela remoção dos interferentes bucais, quer sejam inflamações ou infecções agudas ou crônicas, materiais que possam apresentar algum tipo de toxicidade ao organismo, zonas silentes de osteonecrose, ou questões funcionais da boca que podem afetar postura, sono, respiração. Essa Odontologia se baseia nas melhores técnicas da Odontologia clássica, das quais são subtraídas a visão imediatista, localizada ou utilização de substâncias sabidamente tóxicas ao organismo. Portanto, respondendo o que é odontologia integrativa, trata-se de um conjunto de terapias, que buscam promover saúde, buscar a resolução dos problemas de forma mais assertiva e, principalmente, convidar o paciente a se responsabilizar pelo seu tratamento e ser protagonista das decisões e mudanças através de mudanças de hábitos de vida.
Para entregar tratamentos mais completos e integrais, os dentistas não só buscaram o conhecimento técnico, mas também expandiram para outras vertentes que ajudam a complementar os tratamentos. Aqui, entram as práticas integrativas e complementares (fitoterapia, homeopatia, florais, ozonioterapia, laserterapia) e o conhecimento e integração com áreas relacionadas – como a medicina, fisioterapia, osteopatia, fonoaudiologia, psicologia e nutrição entre outras – para ser possível orientar o paciente e o auxiliar na busca por um tratamento multidisciplinar quando necessário.
Odontologia biológica: qual a diferença?
Também como uma abordagem de trabalho que se integra muito ao conceito da odontologia integrativa, a odontologia biológica vem com um fundamento central: buscar a alternativa mais biocompatível, menos tóxica e mais segura dentro das opções de tratamento. A ideia dessa filosofia de trabalho é lidar com qualquer problema na cavidade oral que possa ser uma barreira para o paciente conquistar a saúde integral plena.
A preocupação com a toxicologia parte do princípio de que o corpo lida com as agressões e contaminações de forma unitária e as intervenções feitas na boca são totalmente passíveis de desequilibrar o restante do corpo. O conceito do terreno biológico é uma das chaves para entender o raciocínio por trás das decisões de tratamento denominadas biológicas.
O terreno, ou a matriz extracelular, que está por todo o nosso corpo, banhando todas as nossas células, orienta as habilidades de autorregulação e tem uma capacidade limitada ao lidar com componentes tóxicos com que eventualmente entramos em contato. Em resumo, a odontologia biológica é uma forma de pensar o paciente e o seu tratamento, entendendo a individualidade, escolhendo os materiais compatíveis para cada caso em específico e sempre tendo como objetivo promover tratamentos o menos interferentes ao equilíbrio geral possíveis.
Ainda tem dúvidas sobre o que é odontologia integrativa e biológica?
Ao longo da história da medicina e da odontologia, surgem profissionais que não se contentam com as “verdades” e os modelos vigentes de tratamento e diagnóstico. E, assim, abrem-se novas portas para descobertas e modelos de trabalho. Podemos citar o Dr. Weston Price, que associou as deficiências nutricionais e de desenvolvimento às cáries e problemas oclusais.
Além dele, Reinhold Voll relacionou pontos de acupuntura na pele através da medição da condutividade elétrica, quando estimulava os diferentes grupos de dentes. Já Ernest Adle é considerado pai da odontologia neurofocal e campos interferentes, e tantos outros pesquisadores possuem teses relacionadas. O fato é que estas “disrupturas” do sistema permitem a evolução e o aprimoramento dos conceitos e técnicas vigentes, tendo sempre como objetivo final a entrega do melhor para o paciente.
Odontologia integrativa ou biológica são conceitos, filosofias de trabalho, formas de atuar, que podem ser levadas em consideração durante as decisões de tratamentos. O mais importante é sempre priorizar o bem-estar, a segurança, o respaldo científico e ofertar ao paciente a escuta para que ele protagonize seu processo de saúde.
“A CIÊNCIA NÃO É UMA ACEITAÇÃO ESTÁTICA DA VERDADE, É UMA CONSTANTE BUSCA DA VERDADE.” KARL POPPE