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Respirar pela boca faz mal?

O hábito crônico de respirar pela boca faz mal e pode levar a complicações de saúde graves. No entanto, cada vez mais pessoas, de crianças a adultos, sofrem com esse mal — o qual está diretamente relacionado ao estilo de vida moderno.

Neste artigo, explicamos as diferenças entre a respiração nasal e bucal e abordamos os malefícios da última. Além disso, detalhamos as principais causas do distúrbio e mostramos como é o respectivo tratamento. Confira!

Diferenças entre respiração nasal e bucal

respiração nasal filtra, aquece e umidifica o ar, o que é especialmente benéfico em regiões secas e frias. A filtragem, vale destacar, ocorre por meio dos pelos e mucos presentes nas narinas, que capturam as impurezas sólidas (como pó, pólen etc).

Depois, o ar segue pela rinofaringe, passando pelas adenoides (um tecido linfático) e, na sequência, passa pelas amígdalas, na orofaringe. Essas estruturas fazem parte do sistema imune e garantem a filtragem de partículas e a proteção microbiológica, evitando que vírus e bactérias entrem para os pulmões.

“A respiração bucal, no entanto, não conta com esses recursos. Além disso, ela leva à secura bucal, causa de frequente inflamações das amígdalas”, explica Dra. Elisa Baumgarten, dentista clínica integrativa do Centro Conscientia, localizado em Florianópolis, SC.

Exemplos do porquê respirar pela boca faz mal

Como explicado, respirar pela boca aumenta o risco de infecções das vias aéreas superiores e de alergias. Ao mesmo tempo, prejudica a adequada oxigenação do corpo e do cérebro. Como consequência, há o comprometimento da concentração, da memória e do desempenho (escolar e/ou profissional).

Ao mesmo tempo, quem respira pela boca tende a ter um sono fragmentado e de má qualidade. Dessa forma, o hábito leva à sonolência diurna, problemas de comportamento (como excesso de irritabilidade),dificuldade de concentração e/ou de aprendizagem e problemas de memória.

Também é possível notar o já mencionado aumento da secura bucal, devido à falta de saliva. Sabe-se que isso altera a microbiota oral e, por consequência, a microbiota intestinal, uma vez que a segunda depende da primeira. Na prática, o problema dificulta a digestão, aumenta o risco de ter cáries e favorece a halitose.

Impactos da respiração bucal no desenvolvimento infantil

Em relação às crianças, é ainda mais fácil perceber como respirar pela boca faz mal. Além dos problemas já citados, que também se aplicam aos pequenos, vale destacar que a respiração bucal ainda é capaz de provocar alterações no olfato e paladar. Essas, por sua vez, levam à redução do apetite, fazendo com que:

  • comam em quantidade insuficiente;
  • e/ou tenham preferência por alimentos hiperpalatáveis — projetados pela indústria alimentícia para serem mais “atraentes”, como salgadinhos de pacote, bolachas recheadas, macarrão instantâneo, nuggets, entre tantos outros.  Os produtos com muitos químicos também contribuem para os quadros alérgicos tão comuns nas crianças que muitas vezes contribuem para as rinites e a obstrução nasal crônica. Excesso de produtos lácteos podem ter esse efeito também para muitas pessoas.

Devemos lembrar que para que o ar entre pela boca a posição da língua fica baixa.  Essa postura lingual acarreta problemas não apenas na deglutição, fonação.  Essa postura lingual baixa constante altera a musculatura da língua, que durante a noite, principalmente na posição de barriga para cima, pode deslizar para trás obstruindo a passagem de ar na orofaringe,  causando então ronco, apneia do sono e bruxismo com suas graves consequencias no desenvolvimento geral e cognitivo.

“Além disso, respirar pela boca afeta a postura, pois faz com que as crianças mantenham a cabeça inclinada, para abrir as vias aéreas. Isso pode levar a desalinhamentos da coluna e dores musculares, tanto no pescoço, como nas costas”, detalha nossa dentista.

E tem mais: quando o ar entra pela boca de forma crônica, causa deformidades no desenvolvimento das arcadas e de todo terço inferior da face. As principais complicações são:

  • palato alto, estreito e ogival (que também dificulta a respiração nasal por roubar espaço do ar nas narinas)
  • mordidas cruzadas;
  • retrognatia (mandíbula deslocada muito para trás),com consequente obstrução da passagem do ar e todos os fatores que predispõe ao ronco e à apneia do sono (na infância e na futura vida adulta),já citados acima.

Causas da respiração bucal e como preveni-la

As principais causas da respiração bucal são a obstrução crônica do nariz e a inflamação de adenoides. Essa obstrução piora quanto existem quadros alérgicos, com rinite.  Desvios de septo acentuados também podem causar essa dificuldade na passagem do ar pelas narinas.

A boa notícia é que é possível prevenir o desenvolvimento da respiração bucal. Para tanto, quando a criança apresenta obstrução nasal crônica, é imprescindível resolver a origem do problema o quanto antes. Para tanto, recomenda-se a eliminação de ácaros, pólen e os alérgenos ambientais mais comuns. Deve-se, ao mesmo tempo, averiguar alergias alimentares (ou outras) e dar preferência aos alimentos orgânicos, naturais e vitais, eliminando produtos industrializados.

“O problema não pode ser ignorado, pois compromete o desenvolvimento cognitivo e fisiológico da criança por toda vida. Afinal, uma boca que não se desenvolve de forma adequada na infância pode, facilmente, levar à apneia obstrutiva do sono na vida adulta. Sabe-se que esse problema, por sua vez, tem relação com doenças cardiovasculares, dislipidemias, obesidade, diabete, Alzheimer e até câncer, num avassalador efeito dominó”, ressalta Dra. Elisa.

Deve-se lembrar que a ansiedade, esse quadro psicológico tão comum nos nossos dias de tanta informação e hiperatividade também pode levar à respiração oral, superficial, piorando a qualidade de vida.

Estratégia de tratamento para a respiração bucal

Agora que você entendeu porque respirar pela boca faz mal, vamos ao tratamento para o problema. “Basicamente, é preciso desobstruir as vias aéreas superiores e adequar (habilitar) a musculatura oral a funcionar da forma correta. Para isso, quando o desenvolvimento das arcadas dentárias foi comprometido, o dentista precisa estimular seu desenvolvimento pelo uso dos aparelhos e técnicas da Ortopedia Funcional dos Maxilares (OFM). Além do crescimento das arcadas, a OFM ajuda a  restabelecer  funções da boca, tonificando e reposicionando a língua, ajudando no selamento labial e fortalecendo músculos de mastigação e deglutição.  O processo exige, algumas vezes, um tratamento integrado interdisciplinar com a fonoaudiologia, com a otorrinolaringologia, com a nutrição, além do dentista.  explica nossa especialista.

Ao mesmo tempo, é preciso investir em melhorias nos hábitos de vida. Isso inclui:

  • a adoção de uma alimentação natural, de preferência, orgânica, rica em frutas e verduras e grãos integrais;
  • a redução (visando a eliminação) de alimentos industrializados;
  • o uso de gorduras boas e saudáveis;
  • minimizar o uso de produtos lácteos, que favorecem a formação de muco nas vias aéreas, além do açucar, às vezes do glúten;
  • o emprego de produtos de limpeza menos agressivos, como sabão de coco, vinagre e bicarbonato, evitando opções agressivas com o exagero de químicos agressivos;
  • a utilização de produtos cosméticos e de higiene pessoal considerados “limpos” (sem triclosan, metais pesados, fluoretos ou parabenos);
  • a exposição diária ao sol;
  • e a prática da chamada higiene do sono.

“Em suma, são preceitos básicos, que fortalecem o sistema imune e diminuem o risco de alergias”, resume a dentista. Assim, entenda de uma vez por todas que respirar pela boca faz mal e, caso apresente o hábito, não deixe de fazer sua avaliação das arcadas dentárias.  O quanto antes, mais fácil será o tratamento.  Sua saúde e bem-estar agradecem!

Esperamos que suas dúvidas tenham sido esclarecidas. Para acompanhar as próximas publicações do blog, bem como conferir dicas e conhecer os diferenciais do Conscientia, siga-nos no Facebook e no Instagram!

Publicado por:
Dentista Clínica Integrativa | CRO/SC 8724 | Graduada pela Universidade de São Paulo (USP) em Farmácia e Bioquímica e em Odontologia, é Mestre em Bioquímica pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Realizou aperfeiçoamentos em Periodontia, Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares, Terapia Floral e Aromaterapia. Além disso, é especialista em Homeopatia pela Fundação Homeopática Benoit Mure de SC e pela Alpha/Facop em São Paulo e possui formação em Mindfulness MBHP (Mindfulness Based Health Promotion) pelo Centro Mente Aberta, associado à UNIFESP, Universidade Federal de São Paulo.

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